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Debaixo do cobertor

Pessoa em silhueta contempla a Via Láctea no horizonte, sob um céu que vai do laranja ao azul-esverdeado.
Foto de Greg Rakozy na Unsplash

Quando eu era adolescente, gostava de passar horas olhando para o céu noturno. Sabia de cor as constelações, onde estava o rastro da Via Láctea, quais daquelas luzes eram estrelas de fato, quais eram planetas e quais eram outras formações cósmicas.Amava fazer isso porque, além de enxergar o que estava diante dos meus olhos, aqueles momentos eram propícios para deixar que a minha mente divagasse sobre o meu futuro e os meus sonhos.


As estrelas e o Universo, tão longe das minhas mãos, também representavam o meu futuro e sonhos que ainda não conseguia alcançar. E, entre eles e eu, deitada no chão, havia uma grande massa de ar fazendo pressão em minha carne.

A vida no presente não é tão incrível quanto o que imaginava que a vida no futuro poderia ser. Para se alcançar o céu azul, é preciso primeiro atravessar o horizonte alaranjado e avermelhado — um caminho marcado pela solidão e, às vezes, pela dor.


Foi isso que senti enquanto os anos se passaram. Alguns dos sonhos consegui realizar, mas alguns… eu tive que adaptá-los ao que a realidade poderia, de fato, me oferecer.


Percebi também que a grande massa de ar que me pressiona não é apenas um fator externo. As pressões, o medo, as críticas também vinham de mim. E, por vezes, consigo ser mais cruel comigo mesma do que qualquer outro ser humano poderia tentar ser.


Às vezes, desejei, durante a minha caminhada, ter um cobertor para me proteger da noite fria enquanto olhava para o céu. Queria voltar a ser criança, quando acreditava que o cobertor era a maior arma contra os monstros e demônios que poderiam estar escondidos lá fora, à espreita.


Porém, o que descobri, mesmo com a minha insistência de querer regressar nos anos de minha vida, é que esse cobertor não é capaz de me proteger nem do que vem de fora nem do que vem de mim mesma. E que a minha maior arma é, na verdade, me descobrir e deixar que o Universo me olhe, assim como eu o olho.


Apenas assim, a luz das estrelas pode abrir caminho até aquela adolescente sonhadora, deitada no chão frio, atravessando as pressões e os monstros. E talvez essa seja a forma de olhar para mim mesma com carinho e acolhimento, deixando que meu futuro e meu presente se tornem igualmente importantes.


  • Autora: Eduarda L. de Oliveira

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