Interferências
- Eduarda de Oliveira

- 15 de abr. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 18 de ago.

A minha TV está quebrada, ela é antiga, mas até que funcionava. Depois de algum tempo, as imagens passaram a estar sempre com interferências e não importa o quanto eu mexa na antena, não consigo assistir nada.
Dessintonizei o rádio. Tudo é apenas um chiado.
Ultimamente nada funciona como deveria. Como se tudo estivesse destinado ao fim.
Bato na TV, xingo o rádio, grito com o mundo.
Por um momento tento fingir que está tudo bem, em uma falha tentativa de enganar o Universo para que eu possa viver sem interferências. Mas ele não aceita a minha barganha. Ele me xinga, ele me bate e ele grita comigo. Porque não é assim que funciona.
Não adianta deixar a TV ali estragada, fingindo que dá para assistir alguma coisa. Ou deixar o rádio desligado e imaginando a programação em minha cabeça.
Eu sei que esse é o ensinamento, mas como aplicar em algo estragado? Será que tudo tem conserto ou devemos correr atrás de outra solução?
Tudo o que eu queria era continuar o próximo capítulo da minha série favorita, mas me parece que não é o momento. Então quando será? Por que ninguém me dá as respostas?
Continuo a minha rotina como dá, sem a minha TV e sem o meu rádio. Vou e volto do trabalho, chego cansada em casa e me sento para descansar um pouco. E quando penso que nada mais pode acontecer, que eu finalmente sinto que não preciso mais daquela maldita TV ou do rádio, eu ouço os raios.
A luz acaba. E eu quero explodir em gargalhadas, porque sempre tudo pode piorar. Sem TV, sem rádio, sem internet e sem poder ligar o maldito ventilador para tentar escapar do calor. Sem micro-ondas ou computador. Mas vai ficar tudo bem.
Só que não. Quando volta a luz, a TV que já não funcionava, queimou. Agora não teria mais jeito a não ser procurar por outra ou nem ter mais nenhuma.
Me encho de expectativas de que agora as coisas possam começar a melhorar. De que já cheguei ao fundo do fundo do poço, mas não falo isso em voz alta para que o Universo não ria da minha cara.
Não sei qual fim vai ter essa TV, mas amanhã vou dar um jeito nisso. Por hoje quero apenas me deitar e descansar. E espero não ter que lidar com mais nada até que a minha sorte decida melhorar.
AUTORA
Eduarda de Oliveira - estudante de jornalismo pela UFMT, escritora em busca de serenidade em meio ao universo de aleatoriedades.



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